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Sei que as vezes uso palavras repetidas, mas quais são as palavras que nunca são ditas?

Rascunho #1

Um ponto importante para viver com sabedoria está em encontrar a proporção certa entre a atenção que dedicamos ao presente e a que dedicamos ao futuro, para que um não estrague o outro. Muitos vivem por demais no presente: os levianos; outros, por demais no futuro: os medrosos e cheios de cuidados. É difícil alguém manter nisso a medida justa. Aqueles que, ansiando e esperando, vivem só no futuro, olhando sempre para a frente e correndo apressados ao encontro das coisas vindouras, como se só elas trouxessem a verdadeira felicidade, e que deixam enquanto isso escoar-se o presente, despercebido, sem gozá-lo, são, apesar do seu ar grave, comparáveis àqueles burros da Itália, cujo passo é acelerado por terem pendurado, num bastão preso à sua cabeça, um molho de feno, que portanto sempre veem bem à sua frente e esperam sempre alcançar. Ludibriam-se, sacrificando toda a existência, ao viver sempre só no intervalo - até que um dia morrem.
Em vez, portanto, de estarmos sempre e exclusivamente entretidos com os projetos e as preocupações com o futuro, ou de entregarmo-nos à nostalgia do passado, não deveríamos nunca nos esquecer de que só o presente é real e só ele é certo; enquanto o futuro quase sempre sai diferente do que pensamos; e também o passado foi diferente do que hoje parece ter sido; e de tal forma que ambos têm menos significado do que parece. Só o presente é real e verdadeiro: ele é o tempo de fato preenchido, só nele está a nossa existência. Por isso, deveríamos dar-lhe sempre uma boa acolhida, desfrutando conscientemente cada hora livre de adversidades imediatas, ou de dores; isto é, não turvá-lo com caras aborrecidas sobre esperanças frustradas no passado ou preocupações com o futuro. Porque é tolice afastar de si uma boa hora presente, ou estragá-la, voluntoriosamente, por desgosto com o que virá. Para desfrutar o presente, e portanto a vida toda, devemos sempre nos lembrar de que hoje só vem uma vez, e nunca mais. Mas nós imaginamos que ele volte amanhã; amanhã, entretanto, é outro dia, que também só vem uma vez. Nós nos esquecemos de que cada dia é uma parte integrante e, portanto, insubstituível da vida. Igualmente, apreciaríamos e gozaríamos o presente se, nos dias bons e saudáveis, tivéssemos sempre a consciência de como, nas horas de doença ou de tristeza, cada momento que passou sem dor nem privações nos aparece na lembrança como algo infinitamente invejável, como um paraíso perdido, como um amigo que não soubemos reconhecer.
Mas vamos vivendo nossos belos dias, sem percebê-los: só quando vêm os dias ruins é que desejamos que eles retornem. De cara aborrecida, deixamos passar mil horas serenas e agradáveis para depois, nos momentos turvos, suspirar por elas em vão. Em vez disso, deveríamos honrar cada momento aceitável do presente, mesmo o cotidiano, que agora deixamos transcorrer tão indiferentes e que talvez até empurramos impacientes, sempre lembrados de que, neste exato instante, ele se precipita naquela apoteose do passado, em que, daqui por diante, banhado pela luz do que é perene, fica guardado pela memória, para aparecer - quando um dia esta levantar a cortina, especialmente numa hora amarga, - como um objeto da nossa mais íntima saudade.
(Arthur Schopenhaur, Aforismos para a Sabedoria na Vida)
Achei esse texto na minha apostila de Literatura. Resolvi postar.

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