“Está doendo muito, por favor, façam isso parar”, continuava a dizer. No meio da multidão, que incluía jovens, crianças, mulheres, homens, existia um senhor de idade. Todos preocupados com o jovem, querendo de alguma forma ajudá-lo, sem saber como. Os olhos do rapaz encontrou no meio da multidão o senhor de idade. O rosto do senhor era calmo. Ele não estava preocupado com a situação do rapaz.
“Eu não queria, não queria”, gritou mais uma vez. “Não queria o que?!” – muitas pessoas disseram ao mesmo tempo. “Eu não queria ir embora, eu não queria fazer tudo que estou fazendo”, contou. Enquanto ele falava, o senhor de idade veio se aproximando, o puxou pelo braço, colocou o rapaz de pé e apenas disse: “Pare”.
“O senhor nem sabe o motivo dos meus gritos, da minha dor, me solta”, gritou. “Eu sei muito bem. Quantos anos o você tem, garoto? 23?! 22?! Tenho 72 anos e sei muito bem qual é seu problema”, disse de forma agressiva. O senhor o levou para perto de um lugar estranho. Um lugar iluminado apenas pela luz do sol. O rapaz não sabia para onde ele estava o levando, parecia um lugar o qual ele já estava acostumado a ir. Ele retirou calmamente um papel bastante amassado e velho, uma carta retirada de um caixote que estava meio escondido. O entregou a ele e disse: “Leia..”
“Olá meu amor. Queria que soubesse que as coisas estão bem aqui. Sinto sua falta todos os dias. Sinto falta do jeito que você me faz rir, até do jeito que sente minha falta. Sinto falta do modo que você conta suas piadas bobas para me fazer rir. Sinto falta do seu cheiro, do seu abraço. Queria que soubesse que estou voltando para casa. Essa viagem está sendo mais longa que nunca. Não vejo a hora de voltar e ter a chance de receber mais uma vez o seu abraço. Com muito amor, Rosa”
Uma coisa chamou a atenção do garoto. A carta tinha sido escrita em 1970. Estavam em 2011. Olhou para o senhor e antes de perguntar qualquer coisa, recebeu uma resposta que nunca esperava:
“Ela não voltou, nunca mais. Parou no meio do caminho, ficou mais tempo por lá. Deve ter conhecido alguém. Minha vida não parou, continuei aqui de alguma forma, mantendo essa carta, minha última lembrança de nossa história, quando ainda existia amor. Antes mesmo de você me contar seu problema, presumi que seria pelo amor. Se errei, peço desculpas, mas garanto que não. Não existe sofrimento maior do que esperar alguém que não vai voltar. Não sorrio há muito tempo. Mas não deixei de viver minha vida.”
Eu estava confuso. O senhor me deu uma palmada nas costas e disse: “Fique perto do seu melhor amigo agora”, soou como um suspiro. Perguntei: “Quem?”
“O tempo”, finalizou.
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