E a gravidade age sobre os últimos grãos de areia na ampulheta sobre a mesa. Parece que no final do ano o tempo corre um pouco mais rápido pra passar a tocha do "agora" para o próximo ano e enfim ter seu merecido descanso.
Um ano. Todo esse tempo a seu dispor e o que você mais queria vai ter que esperar pro próximo ano, que vai pro próximo e pro próximo. Sempre é assim. A nossa capacidade de deixar as coisas pra depois vai além da nossa vontade de querê-las agora.
Você começa o ano achando que tudo o que deseja vai dar certo. O clima das festas te contagia e te dá um novo objetivo a cumprir. Passamos por janeiro reclamando que as férias estão no fim e logo chegamos em fevereiro e temos que assumir as responsabilidades que deixamos dois meses atrás. Também reclamamos do Carnaval e logo estamos com a casa lotada de ovos de páscoa. Chegam as festas juninas e já estamos novamente nas férias de julho e aquele objetivo proposto em janeiro está lá, sendo lembrado somente quando podemos ter um tempo pra descansar da correria. Mas como ainda temos um semestre pela frente, o objetivo terá seis longos meses para ser cumprido por nós. O colocamos de lado e partimos para o frio de agosto. Setembro escapa de nossas mãos e quando nos damos conta, estamos no meio de outubro. E mais rápido ainda, nos pegamos no fim de dezembro, olhando pra trás e se lembrando daquele velho objetivo que não se cumpriu.
Então eu estou aqui, no fim de dezembro desse ano, relendo alguns antigos posts que eu havia feito numa época mais clara e, caramba, como eu estou diferente. Seria um sinal de amadurecimento? Talvez. Mas eu confesso que o objetivo que eu criei no começo de janeiro foi esquecido há muito tempo e fico mais aliviado em saber não faço a mínima questão de lembrar.
Tanta coisa me aconteceu nesses últimos meses, e eu posso ver isso claramente aqui. As datas coincidem-se e eu descobri que a escrita vêm sido o meu refúgio desde alguns rascunhos e esboços que eu encontrei de quando tinha dez anos. Documentar tudo o que estou sentindo e as minhas opiniões tem sido uma das únicas maneiras que eu encontrei pra não enlouquecer completamente. Como se a sua frustração fosse para o papel e ficasse lá e quando você termina de escrever ou de desenhar, você se sente mais leve, mais forte pra sobreviver.
Devo dizer que sobrevivi bem a esse ano. Apesar dos grandes sumiços daqui, me sinto mais confortável escrevendo aqui do que conversando com o meu melhor amigo, como se esse blog fosse o meu ouvinte mais confiável e mais secreto das minhas confissões. Embora eu prefira o meu melhor amigo, é claro. Também me atrevo a dizer que blogs e diários são os melhores amigos daqueles que sofrem, como se fosse a sua própria Penseira e nele você guardasse tudo o que pensa.
Um ótimo ouvinte, mas que não te traz muitas respostas. Exatamente como a Penseira, só o que você pensa não é o suficiente pra te trazer as respostas que precisa e te dar a coragem pra fazer as coisas que deseja. Esse é o papel do seu melhor amigo. E eu posso afirmar com toda a certeza do mundo que no ano de 2011 eu consegui alguns amigos a mais que me trouxeram tanto esclarecimento de coisas que nem eu mesmo sabia sobre mim. Seria muita audácia dizer que o meu objetivo de janeiro seria fazer mais amigos? Porque, se fosse esse mesmo o objetivo, eu estaria com meu ano de 2011 cumprido com muito sucesso. Pensando nisso, resolvi deixar registrado o meu objetivo para 2012. Nesse ano que está por vir, o que eu mais queria é fazer a diferença para alguém, tamanha diferença que os meus novos amigos e especialmente um amigo fez a mim. É o que eu desejo do fundo do meu coração e é o que eu vou tentar fazer durante o ano que vem. Ou pelo menos até a hora que janeiro termine e tudo volte ao normal.
Sei que as vezes uso palavras repetidas, mas quais são as palavras que nunca são ditas?